Pedrinho não ocultava a admiração por seu pai. O ascendente, homem franzino, de fala mansa e olhar respeitoso, empático, era a referência para o filho, que o amava e respeitava. Perante os amigos da escola, não economizava adjetivos que muito o exaltava.
Em uma atividade lúdica na escola, o garoto após confeccionar uma redação de cunho descritiva, foi convidado a expor o conteúdo na forma verbal. Leu o texto que exaltava seu herói e a emotividade exalava por seus lábios, naturalmente, quando da descrição dos atributos do ídolo.
A redação despertou a curiosidade dos amigos e professores. Como seria esta personagem real, virtuosa de que tanto Pedrinho condecorou. Alguns imaginavam um homem imponente, de grande porte, musculoso. Outros um homem com voz grave, corajoso, semelhante aos personagens fictícios.
Uma semana após, o pai de Pedrinho o buscaria na escola. O menino estava eufórico para que todos vissem seu herói. Ao chegar, quão não foi a surpresa dos expectadores. O ídolo tratava-se de um homem comum, franzino, que apresentava linhas de expressão que remetia a idade próxima aos 50 anos. Vestes simples, tez que emana simplicidade pelo olhar. Os alunos, ao verem o herói, tentavam disfarçar os risos e a decepção.
No dia seguinte, um dos alunos mais ousados, dirigiu-se a Pedrinho e inquiriu: — qual sua concepção de herói? Vi que seu genitor é pouco mais alto que você, magro e apresenta sinais de velhice. Pedrinho, perplexo com a assertiva do colega, solidificou seu conceito de heróis.
—- Heróis musculosos, que voam, que não sentem dor, que não tem medo, somente na televisão. Meu pai não é forte, não enfrenta feras, não luta com os inimigos. Ele é muito corajoso. A coragem dele consiste em enfrentar um mundo difícil para me proporcionar o melhor. Sua coragem é ser honesto num mundo repleto de desonestidade. É ser leal num mundo desleal. Seus músculos são pequenos, mas seu coração é imenso.
O heroísmo de enfrentar as dificuldades do mundo, de forma íntegra, mesmo com muitas limitações, demonstra uma coragem superior aos heróis fictícios, que possuem poder e músculos para enfrentar os inimigos. Sejamos heróis por nossa coragem no enfrentamento dos embates do mundo, agindo de forma digna. Medos e insegurança não eximem o herói da sua bravura.
André Luiz Costa de Melo
Escrivão de PolÍcia- DP Central de Suzano