Equipamento em formato de cobra possui quatro metros de comprimento e foi projetado para transitar por destinos inacessíveis, calcular riscos e coletar dados em tempo real sem auxílio humano
Um robô que se parece e se move como uma cobra está sendo testado no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, sigla em inglês) da NASA. O objeto inédito será enviado futuramente ao oceano escondido sob a crosta gelada da lua de Saturno, Encélado, para buscar sinais de vida fora da Terra. Chamado Exobiology Extant Life Surveyor (EELS), o robô autônomo tem esse design justamente para ir a lugares que ninguém jamais viu antes.
A busca por vida extraterrestre não é uma novidade. Muitos esforços já foram empenhados para essas investigações, como investimentos para escavação de rochas em Marte. No entanto, neste novo trabalho, além da forma nova, a equipe do JPL buscou desenvolver um equipamento que ande por conta própria, sem intervenção humana e que funcione em tempo real, diferente dos equipamentos atuais.
Existem outras inúmeras possibilidades de vida que podem estar em oceanos dentro das luas geladas dos gigantes gasosos, ou possivelmente planetas anões compostos de forma semelhante. Para isso é necessário um aparelho que consiga não só transitar por esse ambiente, como também possa alcançar o oceano interno em primeiro lugar. Acredita-se que Europa, a primeira lua descoberta com mares, tenha uma crosta com quilômetros de espessura, tornando a perfuração um desafio intimidador — é aí que EELS entra.
“Ele tem a capacidade de ir a locais onde outros robôs não podem ir. Embora alguns robôs sejam melhores em um determinado tipo de terreno ou outro, a ideia do EELS é a capacidade de fazer tudo”, disse Matthew Robinson do JPL, gerente de projeto do EELS, em comunicado. “Quando você vai a lugares onde não sabe o que vai encontrar, deseja enviar um robô versátil e ciente do risco, preparado para a incerteza — e capaz de tomar decisões por conta própria.”
Uma das tarefas pensadas pelos especialistas é a possibilidade do equipamento transitar entre as passagens estreitas entre os gêiseres, pequenos buracos de onde são lançados jorros de água quente e vapor do Encélado, devido sua forma esguia e flexível.
Como os testes em desenvolvimento têm demonstrado, esse projeto tão desafiador resultou em um robô altamente adaptável. O EELS poderia escolher um curso seguro através de uma ampla variedade de terrenos na Terra, na Lua e muito além, incluindo areia e gelo ondulantes, paredes de penhascos, crateras muito íngremes para rovers, tubos de lava subterrâneos e espaços labirínticos dentro de geleiras.
Deslizando como cobra
De acordo com a JPL, o protótipo começou a ser construído em 2019 e vem passando por revisões contínuas desde então. Hoje ele pesa 100 quilos e tem quatro metros de comprimento. É composto por 10 segmentos idênticos que giram, usando roscas para propulsão, tração e aderência.
O EELS foi projetado para detectar seu ambiente de forma autônoma, calcular riscos, viajar e coletar dados com instrumentos científicos ainda a serem determinados. Quando algo dá errado, o objetivo é que o robô se recupere sozinho, sem ajuda humana.
O robô já foi testado em ambientes de areia, neve e gelo, desde o Mars Yard (um espaço que simula Marte), no JPL, até um “playground de robôs” criado em uma estação de esqui nas montanhas nevadas do sul da Califórnia, até mesmo em uma pista de gelo interna local. “Existem dezenas de livros didáticos sobre como projetar um veículo de quatro rodas, mas não há nenhum livro sobre como projetar um robô-cobra autônomo para ir audaciosamente aonde nenhum robô jamais foi. Temos que escrever o nosso. É o que estamos fazendo agora”, disse Hiro Ono, investigador principal do EELS no JPL.