André Luiz Costa de Melo
Escrivão de PolÍcia- 1º DP de Suzano
O frio e a fina garoa fustigavam Belinha, que logo cedo deslocava-se à escola, com a proteção apenas do singelo guarda-chuvas. Esbravejava diante do desconforto causado pelas gotículas gélidas, que alvejavam a formosa tez. Desejava naquele momento ser transportada em confortável automóvel, equipado com ar ambiente. Mas por enquanto o anseio não transpõe o limite do sonho.
Finda a aula, aportou no lar, esbravejante. — Odeio ser pobre!
O sábio genitor, paciente, tenta expor à filha adolescente que a vida possui belezas fora dos limites do dinheiro. Podemos ser felizes com pouco e o tempo, vinculado ao trabalho e esforço pessoal, podem contemplar a pessoa com bens materiais que favorecem o conforto. Asseverou ainda que a fortuna não é condição indispensável à felicidade. A convicção do pai incutia na jovem reflexões, mas insuficientes para o convencimento.
Certo dia, uma vizinha idosa, encontrava-se em sua residência, na garagem, olhando para a rua. Para manter-se ereta, utilizava-se de um andador. O olhar triste converteu-se em sorriso ao ver Belinha passar defronte. Com humildade, interpelou a garota pedindo que fosse na farmácia ali próxima e comprasse um creme dental e um pacote de papel higiênico. Reforçou que sua cuidadora estava enferma e seu filho em viagem a trabalho. A jovem, com a devida autorização do pai, aceitou. Recebeu a importância de Vinte Reais. A compra totalizou quinze reais e ao lhe ser entregue o produto e o troco, a senhorinha, grata pelo gesto cortês da menina, presenteou-a com uma cédula de cem reais. Ao pegar a nota, Belinha ficou perplexa, acariciou o papel moeda , imaginando que poderia ser uma “pegadinha”. Mas não! Tudo era real. Como assim? Ela lhe deu cem reais por ter buscado produtos que custaram quinze? Será demência? Caduquice? A resistência da jovem em obtê-la foi vencida pela insistência da idosa para que recebesse o mimo.
Em casa, relatou o enredo ao pai, inclusive expos a estranheza da disparidade entre o valor dos produto de higiene com o valor presenteado. Como dispor de cem reais por produtos tão mais baratos?
O genitor, oportunista ante a narrativa, disse: — os produtos de higiene são indispensáveis e por um preço acessível, concordo. Mas na condição da vizinha, com as inúmeras restrições físicas impostas pela idade e doenças, algo tão simples torna-se inacessível. Sua gentileza permitiu que a senhorinha tivesse acesso a algo importante e indispensável. Os recursos financeiros dela poderiam comprar uma carga de creme dental e papel higiênico, mas suas pernas não a permite buscar nem uma caixinha de pasta de dente. O valor que lhe foi presenteado pela vizinha é bagatela perto da importância do que você fez a ela.
Continuou: —Belinha, a riqueza extrapola os limites do dinheiro. Sua saúde, inteligência, seus amigos, seus zelosos pais que te amam…são tesouros que recurso financeiro algum compra. Em outras palavras: somos ricos e não percebemos.