Quem possui um ente querido distante sabe o aperto no peito ocasionado pela saudade. A ansiedade no reencontro corrói o coração. Houve um tempo em que as saudosas cartas atenuavam o vazio.
Quando o carteiro chegava era uma alegria sem tamanho. O coração disparava ante a ansiedade em ler o teor. As linhas manuscritas eram lidas com atenção e desvelo. Remetiam a lembranças, que mergulhavam num espirito saudosista. O peito oprimido sentia ligeira tranquilidade e alento.
A tecnologia estreitou a distância, com o telefone. Ouvir a voz do ente amado não tinha preço. E hoje? As chamadas de vídeo permitem, em tempo real, não somente ouvir a voz, mas ver com clareza a imagem, como se tivessem os interlocutores próximos. Aquela angústia pretérita em obter notícias, que dependiam de remessa de cartas, nem sempre possível, dependendo o acesso a agências postais, acabou.
O smartphone aproxima as pessoas, não importa a distância, não importa o país. Pode-se diariamente ver e ouvir o ente distante.
Não obstante a possibilidade da aproximação pela internet, ainda que a imagem seja nítida, ainda que o áudio assemelhe-se a voz da pessoa quando próxima, a tecnologia não substitui o abraço.
Aquele aconchego possível apenas com a proximidade de dois corações que pulsam felizes, que permutam energias, que extingue por total a saudade. Devemos ter gratidão à tecnologia, que muito viabiliza nossas vida.
Hoje muitos empregados atuam em seu domicílio, muitas aulas são ministradas em tempo real. Audiências são on-line, gerando facilidade e economia.
A modernidade veio para ficar. Mas ainda não conseguiu sobrevir o almejado abraço.
Por mais difícil que seja, não podemos perder oportunidades de visitar os entes queridos. Nada substitui o abraço, o calor que se sente ao segurar a mão, a conversa próxima, o desjejum na companhia da pessoa querida, a conversa olho no olho, o aroma do café compartilhado a dois.
Abuse dos abraços, da companhia, do diálogo, dos momentos de euforia. A distância dificulta, mas o esforço para rever o ser amado é compensatório. A tecnologia não supre o corpo a corpo.
O tempo não para. Desconhecemos o futuro. Quando a chama se apagar, restará apenas o registro na lápide. Nesse dia, sobrarão apenas as lembranças. Como diria o grande poeta Vinicius de Moraes no Soneto da Separação: (..) de repente, não mais que de repente.