A Agência da ONU para Refugiados anunciou que mais de 100 milhões de pessoas tiveram que deixar seus países de origem em 2022 – o dobro do número de dez anos atrás.
A Agência da ONU para Refugiados anunciou nesta quarta-feira (14) que mais de 100 milhões de pessoas tiveram que deixar seus países de origem em 2022 – o dobro do número de dez anos atrás.
No Brasil, São Paulo está recebendo a segunda onda de imigrantes afegãos.
As tendas são uma tentativa de trazer um pouco de conforto ao local que só deveria ser de passagem: 141 afegãos estão hoje no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Na maioria, famílias.
Uma jovem de 20 anos está lá com o marido há 16 dias e diz que eles são levados uma vez por semana para tomar banho em um hotel próximo. Ela espera uma vaga em um abrigo em que possam ficar os dois juntos.
Todo esse sacrifício é para escapar do regime de opressão, censura e terror do Talibã. O Brasil concede visto humanitário aos afegãos desde 2021. Eles foram chegando aos poucos; só que em setembro do ano passado, o fluxo aumentou. Toda semana chegavam voos com milhares de refugiados. Centenas acampavam no saguão do aeroporto.
As prefeituras de Guarulhos e de São Paulo, o governo estadual e as organizações não governamentais passaram a encaminhar os refugiados para centros de acolhida.
Em um ano e meio, mais de 7 mil vistos humanitários foram emitidos pelo governo brasileiro para os afegãos. Do Aeroporto Internacional de São Paulo, eles deveriam ir para 11 abrigos que oferecem, ao todo, 800 vagas. O problema é que, neste momento, todas estão ocupadas.
O representante da Acnur no Brasil, a Agência da ONU para Refugiados, explica que a dificuldade com o português prolonga a permanência dos afegãos nos abrigos.
“Os afegãos precisam de um pouco mais de tempo para aprender o idioma português. Para se integrar, para encontrar uma possibilidade de um trabalho. Então, fica um pouco mais de tempo, um tempo maior nos abrigos, e isso impede que haja uma alternância nas vagas dos abrigos”, diz David Torzilli.
A nacionalidade afegã está entre as quatro que mais pediram refúgio em outros países em 2022, segundo o relatório da Acnur. Afegãos, sírios, venezuelanos e ucranianos representam 7 em cada 10 pessoas forçadas a deixar seu país de origem por causa de perseguição, conflito, violação dos direitos humanos.
Ao todo, são mais de 108 milhões de pessoas no mundo – o dobro do que foi registrado há 10 anos.
O Brasil também tem recebido venezuelanos em busca de trabalho e melhor condições de vida. Atualmente, são quase 460 mil vivendo aqui.
Francis Salazar é formada em direito e administração na Venezuela. Chegou ao Brasil, sozinha, em 2018. Trabalhou como faxineira e vigilante até conseguir vaga no setor financeiro de uma empresa em São Paulo. Ela diz que os imigrantes que chegam querem apenas trabalho e ela conseguiu isso aqui.
“A gente consegue, só precisamos uma oportunidade. Essa acolhida que vocês dão”, diz.
O administrador Omid Ahmad Khalid chegou do Afeganistão com a família em 2021. Ele ainda tem dificuldades com o português, mas já consegue entender o significado da palavra acolhimento.
“Por exemplo, eles perguntam: ‘Da onde você é?’. Eu falo, eu sou afegão. Eles falam ‘bem-vindos’. Eu fala: ‘muito obrigado’”, conta.A prefeitura de Guarulhos afirmou que enviou um documento a vários órgãos do governo federal pedindo apoio financeiro e que seja feito um projeto de interiorização para que os afegãos sejam acolhidos também em outras cidades do país.
O governo federal informou que está levantando as informações.