Duas metralhadoras antiaéreas calibre .50 ainda são procuradas. Armas foram furtadas em setembro, mas descoberta do crime só ocorreu em outubro. Nenhum suspeito foi preso.
Um mês após ter descoberto o furto de 21 metralhadoras de um quartel na Grande São Paulo, o Exército conseguiu, conjuntamente com as policias paulista e fluminense, recuperar 19 das armas, mas ainda procura outras duas, que não foram encontradas.
Ao menos seis militares do Arsenal de Guerra em Barueri e três criminosos ligados a facções são investigados pelas autoridades porque teriam participado diretamente do crime. O caso é apurado pelo Comando Militar do Sudeste (CMSE) e pelas polícias civis de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Segundo investigação do CMSE, soldados, cabos, sargentos e tenentes são suspeitos de retirar 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e oito metralhadoras calibre 7,62 do Arsenal de Guerra. Para isso teriam desligado as câmeras de segurança e usado um carro oficial do então diretor da base militar para transportar o armamento para fora do quartel. O oficial não tem participação no furto.
O Comando Militar do Sudeste chegou a pedir a Justiça Militar as prisões preventivas dos seis militares, mas o pedido foi negado. O Ministério Público Militar (MPM) também não concordou com as prisões por entender que os argumentos eram insuficientes de que eles cometeram o furto.
A expectativa dos investigadores do Exército é a de que o inquérito militar que investiga o caso deverá ser concluído até dezembro com o indiciamento dos militares suspeitos por furto, peculato, receptação e extravio. Depois deverá ser feito um novo pedido de prisões deles.
Furto em 7 de setembro
O furto das metralhadoras teria ocorrido durante o feriado de 7 de setembro, mas a descoberta dele ocorreu somente no dia 10 de outubro, quando um militar notou que o cadeado da sala de armas havia sido trocado e decidiu recontar o arsenal. A suspeita é a de que elas foram negociadas com o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, e com o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro.
Segundo o Instituto Sou da Paz, esse é o maior desvio de armas do Exército desde 2009, quando sete fuzis foram roubados de um batalhão em Caçapava, interior paulista.
De acordo com o Comando Militar do Sudeste , as metralhadoras furtadas em Barueri foram fabricadas entre 1960 e 1990, e são “inservíveis”. Ou seja, não estariam funcionando perfeitamente. E passariam por manutenção e seriam avaliadas. Possivelmente seriam destruídas ou inutilizadas já que recuperá-las teria um alto custo.
3 criminosos de facções
O Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), da Polícia Civil de São Paulo, investiga a possibilidade de que três integrantes ligados ao PCC e CV tenham recebido as armas furtadas. Todos estão identificados, mas ainda não foram presos.
Um deles seria chefe do tráfico de drogas numa comunidade em Guarulhos, na Grande São Paulo, onde parte das metralhadoras teria sido levada. Outro criminoso seria um homem suspeito de intermediar a entrega de outras armas furtadas com o PCC e o CV. E um terceiro bandido teria comprado as metralhadoras para as facções.
As 19 armas furtadas do Arsenal de Guerra em Barueri foram encontras em outubro. Dez delas foram localizadas pelo Exército e Polícia Civil abandonadas na capital fluminense. Outras nove foram achadas pela Polícia Civil em São Roque, interior paulista, após troca de tiros com dois criminosos, que fugiram.
Estão faltando mais duas armas, de calibre .50, que ainda são procuradas. O Exército e a Polícia Militar (PM) já realizaram duas operações em Guarulhos, em busca das armas, mas não as encontraram. Eles cumpriram mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça Militar. Entraram em quatro residências, algumas delas eram de suspeitos de ligação com o crime organizado. Ninguém foi preso.
MPM investiga ‘aquartelamento’
O Ministério Público Militar investiga também se houve irregularidades durante o “aquartelamento” da tropa após a descoberta do desvio das armas, em 10 de outubro. Militares foram impedidos de sair do quartel até 24 de outubro. A medida é prevista pelo Exército em casos excepcionais, mas a Procuradoria apura se ele foi aplicada de forma legal no caso do furto das armas.
Militares chegaram a ter os celulares recolhidos e foram ouvidos no inquérito para passar informações que poderiam levar aos culpados pelo desaparecimento das metralhadoras.
Um cabo, que é um dos seis suspeitos de participar diretamente do furto, denuncia que todos eles foram agredidos durante o “aquartelamento” no Arsenal de Guerra, segundo sua defesa relatou.