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Mudanças nos ventos ideológicos da Europa

Fernanda Brandão Martins é coordenadora do curso de Relações Internacionais da

Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

As eleições realizadas no continente europeu até o momento, no ano de 2024, mostraram importantes mudanças ideológicas nos países membros da União Europeia. Eleições nos âmbitos europeu e nacional dos países mostraram que há um descontentamento que perpassa a experiência do cidadão da Europa, levando à busca por mudanças na política, que tem refletido no voto dos cidadãos. O contexto geopolítico do continente hoje é complexo e ajuda a explicar as motivações para essas mudanças importantes que tem afetado a dinâmica política na Europa.

 A Europa hoje se vê diante da guerra na Ucrânia e o medo de um projeto expansionista russo maior, dos altos gastos com esse conflito, uma crise migratória e um desempenho econômico aquém do esperado ainda em processo de recuperação após a pandemia. Além disso, a percepção de que as condições de vida da população europeia pioraram dada a presença crescente de imigrantes também tem motivado a insatisfação da população em diversos países, inclusive na França e na Alemanha, países importantes que exercem um papel de liderança dentro da União Europeia. A própria continuidade e os benefícios do processo de integração europeia começam a ser colocados sob questionamento, sobretudo pela extrema-direita.

As eleições do parlamento europeu acontecerem em meio a questões complexas como a Guerra na Ucrânia, a questão ambiental, o avanço da integração europeia – temas que tem dividido países domesticamente e no âmbito da União Europeia também. Países como França e Alemanha tiveram vitórias expressivas de partidos de extrema-direita, que são nacionalistas e “eurocéticos”, ou seja, são contrários ao aprofundamento do processo de integração europeia por entender que se opõe aos interesses nacionais. 

Em termos gerais, especialistas apontam que quanto à composição do parlamento europeu, os dados indicam para uma redução da presença de radicais ambientais, aumento dos assentos de partidos pró integração europeia, emergência de novos partidos a serem disputados pelas coalizões existentes dentro do parlamento, inclusive coalizões da extrema direita. O aumento da presença da extrema-direita é lido como um voto de protesto da população europeia diante das questões que se impõem e da insatisfação com as ações tomadas pelos governos atuais. Além disso, as eleições no âmbito europeu são consideradas como tendo menor impacto sobre a vida cotidiana dos cidadãos que as eleições nacionais.

Na França, o presidente Macron optou por dissolver o parlamento nacional e convocar novas eleições a fim de forçar a população francesa a fazer uma escolha, tentando fortalecer seu governo ao se consolidar como a principal solução para evitar que o poder na França caísse nas mãos de um partido mais radical a direita. A aposta do presidente é que os franceses não teriam coragem de repetir o voto na direita extremista no âmbito doméstico. A estratégia do presidente mostrou que realmente os votos para o parlamento europeu para a extrema-direita não se repetiram. Apesar do aumento de assentos para o partido Rassemblement National (extrema-direita), a principal ganhadora das eleições para o parlamento nacional foi a coalização de esquerda, Nova Frente Popular (NFP), fazendo com que o presidente fosse o principal perdedor do pleito.

O aumento progressivo da extrema-direita nos parlamentos nacionais e no Parlamento Europeu traz à tona o debate sobre o futuro da integração europeia. Os partidos extremos da direita são considerados eurocéticos por enxergarem o processo de integração europeia de forma negativa, levando alguns partidos a até mesmo prometerem uma saída da União Europeia em caso de vitória. Além dos desafios geopolíticos que a Europa enfrente, o continente passa por uma crescente pressão interna para a fragmentação do bloco, o que pode ter impactos significativos sobre a forma como os países da UE irão lidar com os desafios que se apresentam no contexto internacional. Dado o nível de integração, sobretudo econômica, qualquer saída da União Europeia terá custos econômicos altíssimos. Além disso, a crescente descrença sobre o processo de integração gera a percepção de uma Europa mais fraca e não mais forte.

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